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20 de abr. de 2011

Sônia

Sônia é  minha primeira referência de fêmea alfa.
Tenho aquela lembrança fraca, mas real, dela pondo minhas irmãs, a quem ela chamava de gurias,  para dormir e cantando Adoniran Barbosa pra elas.
Ela era uma mulher realmente bela: olhos pequenos e sorriso grande. Outras lembranças estranhas me vem à cabeça de repente: ela e meu pai, um homem visivelmente mais velho de voz grave, andando num parque agropecuário e tentando não nos perder de vista.
Aí o tempo passou e Sônia foi ficando a mãezona de todo mundo, sem muita paciência para as lições de casa, dando uma chinelada para acalmar os ânimos da galera, cozinhando com um pouco de amargura, mesmo quando fazia doces. Depois que o marido se foi, Sônia passou a ter uma tristeza parada sobre ela, tipo nuvem de cartoon. Seus olhos ficaram menores e o sorriso também.
Ela se virou em vendas de bugingangas para pagar as contas, até que se tornou a cabeleireira da vizinhança e mais tarde abriu um salão na nossa garagem. Quando eu tinha 15 anos, ela me disse que eu era o homem da casa e que todo mundo contava comigo para isso. Eu fiquei orgulhoso, tirei onda com as gurias, mas à noite chorei no quarto, porque minha maior vontade era justamente ser o todo mundo que podia contar com alguém.
Sônia jamais se casou outra vez. Teve uns namorados, mas nunca os apresentou com esse título.
Um dia desses achei uma aliança perdida na sua penteadeira e ela me disse que estava ali por acaso, que não a via há mais de 20 anos. Polida e quente, pensei.
Hoje a minha homenagem é para essa grande guerreira, pulso firme, boa de conta, cozinheira de mão cheia, dona da melhor receita de feijão tropeiro do mundo.
Mãe, tô chegando. Saudade do colo quente e da mão pesada na minha cabeça. Nem adianta vir com aquela tesoura nervosa, porque meu cabelo desgrenhado faz o maior sucesso com elas!
;-)

Um comentário:

  1. Até eu estou aguada nesse feijão da D. Sônia...

    Bjo grande, querido, e uma ótima Páscoa para vc!

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