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27 de out. de 2011

Flávia

Sábado de manhã. Antes ainda do primeiro cigarro, o café recém passado naquele velho coador de pano, o cheiro de Flavia nas mãos. Ela dormia o sono dos justos. Ela dormia e eu que adoro assistir um sono de fêmea a observava. Caneca na mão, olhos grudados nos quadris dela. Deu vontade de catar a câmera na gaveta e registrar. Mudei de ideia, a foto nunca faz justiça ao momento perfeito.
Flávia está imóvel, cansada e feliz. Vivo pra isso, tenho certeza.
Se é verdade que a gente tem uma missão nesse mundo, a minha é acordar e contemplar essa cena. Me sinto completo, o gosto de café na boca, mistura-se ao gosto da buceta dela, gosto fresco, delicioso mesmo. Nasci pra isso, tenho certeza.
Vou erguer de leve o lençol e ter a visão perfeita para começar o dia.  É... acho mesmo que deveria fotografar.
Os cabelos cobrem seu rosto, mas dá pra ver que ela sorri, se mexe um pouco, talvez seja um sonho, tomara que eu esteja nele.
Flávia faz o tipo inesquecível, bebe sem culpa, tem uma gargalhada verdadeira, é generosa no sexo e fomenta intimidade.
Se mexeu de novo, virou pro outro lado, me deu mais uma visão incrível do meio de suas coxas.
É... Vou levantar e fazer um pãozinho na chapa e um suco de laranja. Essa mulher vai acordar faminta.

25 de out. de 2011

O amor é foda.

Contrariando todas as poesias, as músicas populares e as comédias românticas,  vou fazer uma revelação bombástica: o amor tem um poder destrutivo que pode fuder com a sua vida.
Ele vem com esse jeitinho manso e poderoso de mudar tudo à sua volta, usando a desculpa esfarrapada de que quem ama cede, quem ama perdoa, quem ama, quem ama... Mas o amor não é essa coisa perfeita e altruísta. Ao manifestar-se ele dá uma misturada básica com os defeitos humanos e aí é que você dança.
O amor cede, mas nem tanto. Perdoa, mas não esquece. Dissimula, omite, pratica o egoísmo, sente ciúmes.
O amor é bacana.
Mas é a armadilha mais bem arquitetada que já inventaram por aí.

18 de out. de 2011

Melissa

Ela faz o tipo bond girl. É americana, mãe brasileira, alma novaiorquina, bunda carioca.
Os cabelos brilham e o sorriso revela discretamente o que eu ja sei há tempos: mulheres são loucas. Quanto mais loucas, mais interessantes. Quanto mais interessantes, mais se saem melhor num bate papo, melhor se portam num restaurante, mais adaptadas se mostram numa roda de piadas sem graça e melhor pagam um boquete.
Não nos vemos com a frequência que eu gostaria, mas todas as vezes que eu precisei ir a terra do Tio Sam, era ela quem estava lá, atrás dos óculos de sol, dentro do terninho marinho e com o melhor hello, desde as aulas na Cultura Inglesa. No banco de trás do taxi, ela coloca minhas mãos entre suas pernas e diz:
"Miss you." Simples e direto como deve ser.
Minha homenagem ao jeito cosmopolita de Melissa, que misturado ao olhar brejeiro herdado da mãe, a deixam perfeitinha, louquinha e irresistível. Exatamente como deve ser.

17 de out. de 2011

Estive em Nova Iorque nos 10 últimos dias, a trabalho. Reuniões intermináveis, meu inglês cada vez pior, mulheres lindas, drinks todas as noites e eu aqui de volta a essa terra da garoa cinza e linda, com uns quilos a mais e uns neurônios a menos...
Meu chefe se separou. Um brasileiro solteiro em Nova Iorque, cheio do dinheiro, malhando pra ficar gatinho, tentando recuperar o tempo perdido, caminhando diariamente no Central Park e conhecendo gente nova, mais perdido que pitanga em pé de jabuticaba, porque passou os últimos dez anos em monogamia absoluta.
Chega a ser engraçado e triste perceber que uma vez sozinhos, ficamos mais a fim de viver.
O cara era um sedentário, mal humorado, detestava baladas, workaholic compulsivo, frio com a mulher.
De repente se tornou o sujeito que acorda cedo pra se exercitar, conta piadas inteligentes e gosta de dançar.
É carinhoso com o sexo feminino, fala em fazer plástica, quer conhecer o Havaí.
O ser humano... esse ser esquisito e adorável que precisa de muitos tombos pra andar em linha reta e cair menos...

3 de out. de 2011

Ariane

Ela dizia que era médica, mas depois descobrimos que era enfermeira. Gostava de bancar a doutora para as pessoas do bairro, desfilava de estetoscópio no pescoço e tinha um ar meio esnobe.
Ariane não era bonita. Tinha cara de mulher quente, chegada a uma sacanagem de escadaria, uma boca chama-pau, um sorriso sonso. Mas bonita não era.
Um dia ela passou por mim, toda de branco, pastinha marrom como usam as médicas que apenas fingem ser médicas. Tomamos a mesma direção e ela desandou a contar histórias de pacientes em estado terminal. Pessoas que precisavam dela, famílias que esperavam seu diagnóstico. Uma contadora de lorotas de primeira. Mirei bem os peitos de Ariane, eram fartos, prateleiras arredondadas. Olhei para os quadris escondidos pela calça branca e apertada e percebi que  poderia ser bem interessante ouvir algumas de suas mentirinhas.
Ariane e eu duramos mais do que qualquer previsão otimista. Eu fui entendendo que as mentiras que ela contava eram fruto de várias frustrações: 3 anos seguidos de bomba no Vestibular pra medicina. Ela queria provar pro pai, que nunca a registrou (um médico conhecido da região), que ela podia voar alto.
Ariane era do bem. Enfermeira das boas, namorada dedicada, mulher carente e mentirosa.
Eu tenho uma queda pelas mentirosas, loucas, corrompidas, alcoólatras, destemidas e generosas.
Ela era mais ou menos tudo isso. Menos aqui, Mais logo adiante.
Da última vez que nos vimos, ela tinha ido pro Uruguai fazer medicina.
O que Ariane queria mesmo era tornar real a fantasia construída.
E quem não quer isso afinal?
Minha homenagem à doutora Ariane, hoje CRM de verdade.