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22 de nov. de 2010

Débora

Ela tinha umas covinhas que me deixavam maluco. Cada vez que ela sorria, mesmo discretamente, as covinhas despontavam exibidas, fazendo com que eu parasse tudo para chegar mais perto dela. Quando ria de verdade, felicidade estampada na cara, as covinhas eram mais fundas, moldavam seus olhos, mudavam belamente suas feições. Fui louco por essa mulher e durante seis meses fiz de tudo para seduzí-la: piadas, poesias, celibato, prestatividade e dança do acasalamento.
Água.
Ela parecia absolutamente segura de que não me queria. Nem para pagar o cinema de sábado, nem pra adicionar no msn, nem pra fazer companhia  no elevador.
Tentei a tática do ciúme como última opção, mas como sou péssimo em estratégias, a coisa desandou de vez e ao fim de seis meses improdutivos, eu desisti. Amor platônico é bonito nos livros, mas na vida real é impossível.
Como eu sempre digo, a punheta tem seu valor, assim como a solidão, mas há vezes que a gente precisa de muito mais.
Fui tirando sua imagem do pensamento devagar, diminuindo as doses, como se faz com o madito tabaco.
E ela se foi, deixando um rastro de frustração e nenhuma saudade boa pra lembrar.
Mas, mulheres são imprevisíveis e numa bela manhã de sábado, meu telefone toca: "alô, Rubens? Sou eu, Débora. Estou me mudando, vou reunir um pessoal aqui em casa pra abrir um vinho e falar bobagem, tem algo pra fazer hoje?"
Semanas exercitando a despaixão e no instante que ouço aquela voz, meu cérebro processa a imagem e meu pau entende o recado: "Vou ver se dá, me manda o endereço por sms."
Tentei demonstrar uma profunda preguiça de falar com ela e desliguei rápido pra não dar bandeira. "As covinhas conseguiram novamente", foi o que pensei.
Essa é minha homenagem a Débora.
Sabia jogar com as palavras e com as ancas. Sabia fazer um cara sofrer, a danada. Mas também dominava todas as técnicas de fazer um sujeito feliz.
Não passamos de uma noite, é verdade. Após alguns cosmopolitans, a gata não resisitiu ao meu charme-o álcool é o parceiro mais leal que um coração vagabundo pode ter.
Foi pouco, eu sei. Nem sempre o amor ganha o tamanho que imaginamos.
Guardo a lembrança doce de um sentimento que não desistiu de mim, apesar de eu já tê-lo largado de mão.
E de bônus, tive as covinhas exibidas de Débora, só pra mim, numa sucessão de sorrisos deliciosos e inesquecíveis.

3 comentários:

  1. Ainda hoje as covinhas exercem esse fascínio todo sobre vc?

    (P.S.: Vou continuar anônima... isso evita pencas de problemas! rsrs)

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  2. Olá, Anônima!
    Nem sei responder, mas hj, quando parei pra escrever, as covinhas vieram com tudo: fascínio, saudade e vontade. Agora passou. :)
    PS: continue evitando sua penca de problemas.

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  3. Passou é? Que pena... ;)

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