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12 de set. de 2010

Maria

Maria foi a primeira mulher que me fez ficar horas e horas esperando sua chegada.
Ela era perfeita: sorriso largo, dentes brancos, colo aconchegante.
Tinha uma voz mansa e mesmo quando brigava, dava aquela sensação de que seria passageiro e bobo.
Maria trabalhou na casa de minha mãe durante 12 anos. Cuidou de minhas irmãs mais novas porque segundo ela, eu era o homem da casa e não precisaria tanto de sua atenção. Ela era doce, mas tinha nos olhos a marca de uma guerreira. Perdeu dois filhos quando ainda eram bebês. O marido tinha ido se aventurar na Serra Pelada e ela não tinha notícias dele há um ano. Eu olhava aquela mulher lavando vidros, cuidando do quintal e arrumando as roupas de minhas irmãs e sentia uma profunda admiração por aquela força. Era uma energia de fêmea que não esconde derrotas e está ali, esperando que o dia seguinte seja melhor.
Eu esperava seu feijão com arroz e farinha como quem espera o gozo da mulher desejada.
Maria... A minha homenagem a esta mulher inspiradora.
Talvez tenha sido, meu primeiro grande objeto de desejo, meu laboratório para ter certeza de que são vocês, criaturas incríveis, que madam nessa porra desse mundo.
Sinto saudades Maria... eu nunca aprendi a fazer um feijão com aquela cor, cheiro e gosto.

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