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19 de abr. de 2010

Lara

Ela nasceu no dia 24 de novembro. Só esse fato, já faz dela uma mulher especial, mas isso eu só descobriria anos mais tarde.
Fiquei sabendo nos primeiros dias daquele ano, que ela esteve lá em casa no natal, enquanto eu viajava. Minha mãe nem me desejou feliz ano novo, foi despejando a novidade sem dó nem piedade. Eu estava de ressaca, estômago virado, enjôo pós-reveillon-cheio-de-cachaça-e-sexo-sem-compromisso...
Foi um susto. O maior da minha vida. Não quis conhecê-la, mas tem coisa nessa vida louca que simplesmente é inevitável.
Lara foi algo inevitável, mas ainda assim, por várias vezes, ela estava ali na sala, na cozinha ou no quintal e eu escondido no quarto, saindo pelos fundos, sempre tentando evitá-la.
Quando finalmente me encontrei com seus olhos verdes e redondos, já era carnaval.
3 meses se passaram desde o natal, não dava mais pra fingir que não era comigo. Segunda feira, entre o bloco das piranhas e o início do desfile na TV, 1989. Minha ficha finalmente caiu.
Ela estava fantasiada de melindrosa. Confesso que uma melindrosa de fraldas não era bem a minha idéia de encontro sexy de carnaval, mas meu coração estava saltando pela boca quando a vi de roupa vermelha e chupeta pendurada.
Era medo. Não havia nenhuma outra emoção possível naquele momento: era pânico. Medo e pânico misturados a litros de lança perfume inalados no bloco, vagando pelo meu cérebro oco.
Levei mais de um ano pra saber se o que eu sentia por ela era amor. Na verdade, tinha mais a ver com negação. Eu me achava um cara azarado. Ter que dar conta de um problema com nome, sobrenome e muita baba, não era justo. Homens são infantis e egocêntricos. Posso ser julgado e perder o encontro de amanhã a noite, mas tenho que dizer que fiquei bem longe de ser o fofo que se sentiu abençoado, quando aos 22 anos recebeu a notícia que era pai de uma menina chamada LARA, um mês de vida e nenhum dente na boca.
Não era desse jeito que eu havia planejado dar continuidade aos meus genes... verdades na mesa? Eu nunca tinha parado pra pensar em dar continuidade a nada, eu queria era espalhar muita porra por esse mundão sem nenhuma consequência.
Não deu.
Quando a coisa toda tinha rolado há uns 15 meses, pintou um lance sério aqui dentro. Foi quase um miojo: 3 minutos olhando pra ela e pimba!  Amo essa mulher!, pensei.
Ela encostou a cabeça no meu colo e adormeceu com algodão doce melando seu cabelo e pela primeira vez senti a necessidade de cuidar de alguém. Não era uma obrigação, era uma coisa que eu realmente precisava fazer todos os dias pela resto da minha vida medíocre. Eu precisava melhorar a minha vida medíocre, inclusive.
Agora tô aqui, 20 anos depois, meio puto meio orgulhoso, porque ela tem uma bunda maravilhosa desenhada com perfeição abaixo da cintura fina. (eu sou foda quando resolvo fazer algo)
E em algum lugar por aí, provavelmente bem perto dela, deve ter um palhaço pensando em espalhar, sem consequências, genes e outras substâncias.
Ontem quando liguei pra ela, esqueci de falar, mas aí vai:
"Maltrata, filha! Maltrata que a gente gama!"

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