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3 de out. de 2011

Ariane

Ela dizia que era médica, mas depois descobrimos que era enfermeira. Gostava de bancar a doutora para as pessoas do bairro, desfilava de estetoscópio no pescoço e tinha um ar meio esnobe.
Ariane não era bonita. Tinha cara de mulher quente, chegada a uma sacanagem de escadaria, uma boca chama-pau, um sorriso sonso. Mas bonita não era.
Um dia ela passou por mim, toda de branco, pastinha marrom como usam as médicas que apenas fingem ser médicas. Tomamos a mesma direção e ela desandou a contar histórias de pacientes em estado terminal. Pessoas que precisavam dela, famílias que esperavam seu diagnóstico. Uma contadora de lorotas de primeira. Mirei bem os peitos de Ariane, eram fartos, prateleiras arredondadas. Olhei para os quadris escondidos pela calça branca e apertada e percebi que  poderia ser bem interessante ouvir algumas de suas mentirinhas.
Ariane e eu duramos mais do que qualquer previsão otimista. Eu fui entendendo que as mentiras que ela contava eram fruto de várias frustrações: 3 anos seguidos de bomba no Vestibular pra medicina. Ela queria provar pro pai, que nunca a registrou (um médico conhecido da região), que ela podia voar alto.
Ariane era do bem. Enfermeira das boas, namorada dedicada, mulher carente e mentirosa.
Eu tenho uma queda pelas mentirosas, loucas, corrompidas, alcoólatras, destemidas e generosas.
Ela era mais ou menos tudo isso. Menos aqui, Mais logo adiante.
Da última vez que nos vimos, ela tinha ido pro Uruguai fazer medicina.
O que Ariane queria mesmo era tornar real a fantasia construída.
E quem não quer isso afinal?
Minha homenagem à doutora Ariane, hoje CRM de verdade.

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