}

pesquise aqui

2 de mar. de 2012

Jeane

Mãe de 6 filhos. Catadora de lixo em Diadema. Mãos calejadas, lábios ressecados por falta de sorrisos.
Jeane é tão distante do meu mundo de cartas marcadas, noites insones, sextas com happyhour, cama rotativa.
Jeane parece tão mais digna e eu pareço tão menos.
Vamos tirar seu emprego, um grande arranha-céus será construído, vai ficar lindo né, arquiteta com bolsa de grife?
Vai ser duro, doutor. Balbucia uma mulher que não estudou nada, mas aprendeu que o mundo é dos caras que chegam em bando e tomam posse sem perguntar se pode ser desse jeito mesmo.
Ali, no meio de coisa nenhuma, eu vi nos olhos dela uma resignação incomum ao sexo forte.
E sob o sol de 36 graus, eu ofereci uma água e perguntei da sua vida, elogiei a força física, enquanto alguns dos "meus" se entreolhavam incrédulos.  Mal sabem eles que naquele momento estava tão constrangido de ser eu que trocaria de vida com ela.
Jeane me contou dos filhos, das contas, do sustento feito de lixo, e me falou com o mesmo olho resignado,  da dor de não poder voltar atrás e fazer diferente.
E eu pensei: E quem é que pode, Jeane?
Ninguém.

2 comentários:

  1. Leio o blog quase todos os dias, Rubinho.
    E se não o comento é para não correr o risco de dizer obviedades...
    Saudade imensa de você!
    Respondi o seu email, ok?
    Bjo,
    M.T.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir